da ciência à
cadeia produtiva da música
Coordenação
Prof. Marcos Nogueira (Dep. de Composição)
Prof. Paulo Sá (Dep. de Instrumentos de Cordas)
Prof. Julio Merlino (Dep. de Instrumentos de Sopro e de Percussão)
Resumo
O projeto visa à difusão extramuros de conhecimentos produzidos na universidade, em ensino e pesquisa nos domínios técnico-conceituais da criação musical, aplicados aos meios de produção da música na atualidade. O projeto oferecerá à comunidade (UFRJ e externa), nesta sua primeira fase, por 4 semestres consecutivos: (1) palestras sobre a cadeia produtiva da música, com ênfase nos processos criativos que geram os “produtos” da música, envolvendo o mercado da cena musical, o mercado da música em suporte/streaming (o fonográfico ou o da produção audiovisual) e o mercado da “obra” e dos direitos autorais/conexos; (2) entrevistas com profissionais atuantes nesta cadeia produtiva, tanto no contexto da composição, quanto nos campos da performance e do showbusiness, da produção videofonográfica e da mídia e marketing; e (3) cursos de iniciação, treinamento e qualificação profissional de curta duração, nos domínios técnico-conceituais enfocados. Com isso o projeto pretende dar maior visibilidade aos saberes produzidos pela academia, que suportam ou incrementam a produção musical vinculada à Indústria Criativa.
Objetivos
As universidades enfrentam diversas demandas advindas das complexas relações sociais. Suas ações políticas na esfera da problemática da desigualdade social, a rede de trocas com a sociedade, visando ao seu desenvolvimento, e a discussão criativa e autocrítica para a manutenção de canais de participação social são compromissos de quaisquer de suas ações. Mais do que o propósito de difundir conhecimento, o presente projeto está comprometido com a operacionalização dos processos dialéticos entre a produção de teoria e o aperfeiçoamento de práticas, assim como com a interdisciplinaridade que favorece a integração do social com a atuação do músico. Como objetivos específicos do projeto estão: (1) o incremento do diálogo com os setores de absorção de valores oferecidos pelos músicos, e a capacitação das instâncias universitárias para reavaliar seu desempenho na formação profissional, participando efetivamente no desenvolvimento de novos modelos de atuação de seus egressos no mundo do trabalho; (2) promover entre os alunos participantes o debate em torno da legitimidade dos padrões vigentes de ensino e pesquisa acadêmica, tematizando a questão da indissociabilidade do conhecimento produzido pelos três pilares universitários; e (3) aproximar a sociedade e, em especial, aqueles que têm interesse em integrar o corpo social universitário, do papel que o conhecimento em processos criativos musicais produzido pela Universidade pode desempenhar na transformação social.
Relação com outras áreas do conhecimento
O trabalhador da música, no Brasil, assumindo seja as funções de performer, compositor, arranjador, de técnico de gravação, de produtor musical, seja a de qualquer outra especialidade da cadeia produtiva da música, insere-se, sobretudo, naquilo que vem sendo entendido como Indústria Criativa, que engloba as atividades profissionais e/ou econômicas cujos insumos principais são as ideias que geram algum tipo de valor. A estruturação da Indústria Criativa considera 13 segmentos relacionados em 4 grandes áreas: Consumo (publicidade, arquitetura, design e moda), Cultura (Expressões Culturais, Patrimônio e Artes, Música e Artes Cênicas), Mídias (Editorial e Audiovisual) e Tecnologia (Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, Biotecnologia e Tecnologias da Informação e da Comunicação – TIC). Em suas ações conectadas à pesquisa e à formação profissional, bem como em suas ações precipuamente extensionistas, o presente projeto reconhece como pré-requisito de sua boa consecução a valorização da interdisciplinaridade e da interprofissionalidade existente entre a Música e as demais subáreas da Cultura, sem desconsiderar ainda que os segmentos de Publicidade, Tecnologias da Informação e da Comunicação, assim como do Audiovisual estejam, hoje, muito próximos da atuação do trabalhador da música. Soma-se a isto o desafio de inserção do trabalho do músico em segmentos de outros setores produtivos.
Impacto e transformação social
Nas mais diversas áreas da vida social, vê–se a migração do analógico para o digital. O jornal é parcialmente substituído por sites de notícias; a liderança da TV é comprometida pela tecnologia de streaming (em particular Netflix e Youtube); o aceno para chamar o táxi é substituído pelo aplicativo do Uber. Enquanto a Amazon abalou o sistema de lojas físicas, o Spotify redefiniu o modo de se consumir música. Segundo dados recentes da Firjan, a participação da Indústria Criativa nos PIBs estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro tem estado entre 3,8 e 3,9%. Mesmo com a retração do Mercado, nos últimos anos, o segmento da Cultura apresentou crescimento. Houve, no entanto, queda no número de empregos formais em Música, nos últimos 4 anos, provavelmente espelhando a forte dependência que o segmento tem dos financiamentos públicos reduzidos. As ações do presente projeto, considerando a captação de dados na troca de saberes com os atores do mundo do trabalho e o público atendido, estão comprometidas com a mudança deste quadro, começando por enfatizar as questões de como os processos de digitalização e de conectividade vêm mudando o mundo e, particularmente, o comportamento do consumidor de música. Desse modo, cada ação do projeto estará ancorada na reflexão acerca das mudanças técnico-operacionais promovidas pelos novos recursos de produção musical e sua relação com as novas especialidades profissionais resultantes, que vêm modificando o mundo do trabalho do músico.
Diálogo e troca de saberes da Universidade com o público
Os indicadores do mundo do trabalho têm mostrado que quatro em cada cinco profissionais criativos trabalhavam em empresas ou para empresas não associadas estritamente ao setor criativo. Todavia, dentre os trabalhadores dos 13 segmentos da Indústria Criativa atuantes na chamada “Indústria de Transformação” (indústrias de bens de produção e de bens de consumo), os relacionados à Cultura participam, segundo dados da Firjan, com um dos menores percentuais, e dentre estes os músicos são os profissionais com a menor participação. Isto demonstra claramente que os músicos profissionais brasileiros atuam muito especificamente em seu próprio segmento—seja em criação e performance musical, seja em especialidades ligadas ao setor de produção, como gravação, edição e mixagem de áudio—ou em outros segmentos da Indústria Criativa, tanto na área de Cultura quanto em segmentos de outras áreas, como, por exemplo, em Publicidade ou Audiovisual. A Universidade tem dialogado pouco com esses dados e setores de absorção dos valores oferecidos pelos músicos, o que compromete, significativamente, sua capacidade de reavaliar seu desempenho em relação à formação profissional que promove. A partir do fomento do diálogo e da troca de saberes com o público visado, o presente projeto pretende contribuir com a promoção de debates em torno do potencial da Universidade para participar de forma inédita do desenvolvimento de novas especialidades e recursos tecnológicos para a atuação dos músicos.
Relação entre ensino, extensão e pesquisa
O aprendizado extracurricular envolve, essencialmente, a comunidade externa, pois ações destinadas somente à comunidade interna são consideradas como atividades complementares. No entanto, os benefícios que o presente projeto se propõe a oferecer aos estudantes são diversos, resultando no seu crescimento pessoal, acadêmico e social. A implementação de recursos de ensino a distância (EaD) em ações extensionistas é, por um lado, um passo importante para o alcance da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, ao conferir inédita agilidade à complexa rede de ações e interações que constitui a formação do estudante na Universidade. As ações que integram o presente projeto se beneficiarão do exercício do cruzamento das práticas pedagógicas curriculares com a respectiva fundamentação teórico-metodológica àquelas relacionadas, com o fim de atender as demandas das atividades de extensão, incluindo as que resultarão da observação dos estudantes participantes. E de outro lado, a referida agilidade oferecida pelo EaD favorece a integração dos pilares da produção acadêmica, no sentido de facilitar a inserção da ação extensionista junto à sociedade, intensificando a dinâmica de troca de saberes e a permanente reavaliação das ações.
Impacto na formação do estudante da UFRJ
Tendo em vista o curto ciclo de formação de graduação de nossos alunos, é essencial que as ações extensionistas contribuam para (1) fomentar o debate acerca das ênfases de especialização do músico no campo da composição, da performance e da difusão musical, para (2) legitimar os saberes enfocados no ensino e na pesquisa acadêmica, tanto como conhecimento puro quanto como aplicável ao mundo do trabalho, assim como para (3) acelerar com objetividade e consistência o entendimento da indissociabilidade do conhecimento produzido nas várias ações acadêmicas. Todavia, em particular, o presente projeto enfatiza as transformações sociais promovidas pelos processos de digitalização e conectividade, sobretudo com respeito ao comportamento dos indivíduos diante do consumo de bens e serviços. É no Rio de Janeiro que se verifica o papel mais relevante da Indústria Criativa brasileira. Trata-se do estado que tem a maior participação de empresas criativas em sua economia: a cada 20 empreendimentos fluminenses, um tem a criatividade como principal insumo de produção (5,6% de participação, frente a 3,8% no Brasil, segundo dados da Firjan). Desse modo, se o recurso do EaD possibilitará uma abrangência, no mínimo, nacional ao projeto, em termos de público atendido, os alunos participantes, que em sua totalidade residem no estado, poderão se familiarizar com as condições específicas de seu mercado de trabalho potencial.
Descrição do público externo
Além da própria ação de abertura de canais da instância universitária com a sociedade e do atendimento pleno à formação dos alunos da Escola de Música da UFRJ, o projeto visará, acima de tudo, (1) ao público externo jovem e adulto, (2) aos jovens e adultos ligados a movimentos sociais, (3) a professores de escolas públicas e privadas de educação básica, sejam eles professores de música ou professores generalistas, e (4) a profissionais dos vários segmentos da Indústria Criativa ou de outros setores que absorvam valores criativos do trabalho do músico. As ações darão especial atenção à aproximação daqueles que têm interesse em integrar o corpo social universitário. Contudo, adverte-se que como o projeto fará uso sistemático de ferramentas de streaming, de comunicação remota e de EaD, o participante deverá ter acesso a computadores ou dispositivos móveis conectados à Internet (para participar de cursos de curta duração do projeto, o participante precisará de, ao menos, 4 horas semanais de conexão à rede mundial de computadores).
Metodologia
Para a consecução das três linhas de ação do projeto em sua fase inaugural de 2 anos, quais sejam, palestras sobre a cadeia produtiva da música, entrevistas com profissionais especialistas e cursos de iniciação, treinamento e qualificação profissional de curta duração, propõe-se: 1) a seleção dos membros da equipe discente; 2) a realização de reuniões de planejamento da equipe docente e com a equipe discente; 3) o desenvolvimento da plataforma de suporte online às ações do projeto; 4) a pesquisa acerca do universo constituído pela cadeia produtiva da música na atualidade; 5) o contato com os profissionais especialistas nos diversos domínios produtivos do mundo do trabalho, em torno do produto musical; 6) o cotejo das ações de ensino e pesquisa com a realidade de mercado; 7) a divulgação do projeto ao público interno e externo visado; 8) a produção de conteúdo para a efetivação das três linhas de ação do projeto; 9) a realização de reuniões de avaliação.